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Foto do escritorLucas Schuch

Porque a pejotização é ruim. (Especialmente pra publicidade).

Veja bem, eu não quero criar aqui uma visão dicotômica do universo, como se apenas houvesse salvação em ter funcionárias/os PJ, ou em termos funcionárias/os CLT. Eu nem acho que isso seja proveitoso. Mas é importante olharmos para quais problemas uma indústria que tem boa parte de suas pessoas operando em um regime de contratação que não favorece a estabilidade.


As críticas que vou fazer aqui, e que eu propus inicialmente em um post do instagram e que queria complementar agora, se referem a grandes corporações que, tem total condição de arcarem com os custos operacionais de suas funcionárias/os, e não o fazem, ou que, mantém por longos períodos (mais do que permitido legalmente) profissionais alocados em suas estruturas em regime PJ. Então, não é uma crítica a uma pequena empresa, que em meio a uma crise (por exemplo) só tem essa maneira de manter seu sustento pessoal também. Reforço, não é sobre isso.

Além do que eu, particularmente, sou um grande entusiasta de modelos de negócio que, em publicidade, apenas conectam pessoas por curtos períodos de tempo, e isso é ótimo pro produto criativo (já que não homogeneiza as respostas). Agora, desde que paguem o condizente a todos os direitos por aquele curto período contratado, não é? Então essa dicotomia é preciso que seja posta de lado, por um breve momento (ainda que, deste que vos fala, sempre olharemos pela perspectiva de funcionários/funcionárias pois são de fato quem produzem).


Pronto, agora já podemos nos despir de nossos enviesamentos e partir para o texto (como se isso fosse possível).

Vamos ter em mente que, se você perguntar para empreendedores/as, a resposta majoritária vai ser que PJ é o modelo mais sustentável. E que se perguntarmos para funcionárias/os, CLT é o modelo mais sustentável. (Majoritariamente, não, unanimemente).

Vamos lembrar também que, os direitos garantidos pela CLT, são construções de anos de um sistema que não privilegia quem está na ponta operária de qualquer indústria (você pode discordar disso caso você esteja na posição de dona/o, porém, essa é a essência do sistema em que vivemos, então, eu meio que sei que você já concordou com isso, se você tá lendo esse texto, e isso não te torna a/o vilã/o da história, serião).


E também: essa é uma discussão que deve ser mais ampla do que: "você prefere ganhar menos na CLT mas ter direitos, ou ganhar mais sendo PJ?". Essa falsa simetria que essa pergunta propõem é que é um dos grandes problemas. E é daí que eu quero partir para problematizar a publicidade.


O argumento de que PJ é melhor pra todo mundo, pois, você ganharia mais e poderia decidir como investir o dinheiro no seu futuro é falacioso pois, desta forma, estamos assumindo que todo mundo teve acesso a educação financeira, e que, especialmente, tem a mesma chance de empregabilidade, caso venha a perder seu sustento. E isso não é uma verdade, especialmente num país como o Brasil.


Perceba, a medida que a publicidade entende que, o recorte sócio-demográfico de pessoas que tínhamos nas agências e empresas, era o mesmo há muito tempo, e isso estava sendo nocivo para o produto final das mensagens publicitárias, a gente vai lá e ~tenta~ resolver essa questão trazendo mais pessoas de minorias e grupos minorizados. Correto? Porém, continuamos contratando com o regime de PJ, da mesma forma que sempre foi para as pessoas que estávamos acostumados a ver na indústria. Pessoas que sim tinham acesso a informação e educação financeira, que tinham o privilégio de poder guardar parte de seu salário, e que, sobretudo, não temiam (tanto) pela sua empregabilidade, ou seja, caso fossem demitidas/os, sabiam que conseguiriam emprego novamente rapidamente.


Bom, a medida que outras pessoas chegam na indústria, isso não pode ser visto por essa perspectiva única mais.


(Importante: podemos ter sim pessoas nessas camadas sociais que prefiram ser PJ, e isso é genuíno, não está em debate. Contudo estou me referindo a grande maioria que não teve acesso).


Agora olhando mais amplamente para todas as pessoas dessa e de outras indústrias em transformação. Será que o modelo de contratação PJ não é nocivo também para empresas que querem se transformar? Pergunto isso porque, honestamente, você liderança que está aí agora lendo esse texto, acha que as pessoas PJ que trabalham pra você, te falam tudo que pensam e problematizam as coisas que, você mesmo, pode estar fazendo errado enquanto liderança? Eu adoraria ter uma pesquisa pra confirmar isso, e agora tá vindo tudo do "instituto minha cabeça", mas eu duvido muito que pessoas, sem a mínima garantia de que se forem mal interpretadas por você, podem ser demitidas de um dia para o outro, sem qualquer garantia, te falem tudo que pensem sobre seu modelo de gestão. E, sinceramente, você acha que isso é produtivo para uma indústria que corre a passos muito lentos para acompanhar a sociedade? Você quer essa massa de pessoas que concorda com você?


Bom, eu tô me sentindo indo aqui pra um lugar de tentar te provar que CLT é legalzona, que você deveria só topar trampar (e contratar) nesse modelo. Mas a verdade é que eu não quero mudar sua opinião não (nem acho que isso acontece na internet). O ponto mais importante que eu queria trazer é: ouça as pessoas, e entenda individualmente realidades de pessoas que você tem (ou quer ter) próximas a você.


Porque que eu tô dizendo isso: vão existir pessoas que vão sim optar por empreender, ter seu próprio controle sobre os seus investimentos, e etc. Contudo, vão ter pessoas que vão preferir não ter isso que você chama de benefício aí (de ter mais salário), mas ganhar um pouco menos e ter seu plano de saúde garantido, suas férias pagas, recisão, décimo terceiro, etc. Então, não julgue a realidade de quem você quer contratar, pela sua realidade e das pessoas você sempre teve a sua volta, que tiveram acesso as informações que te trouxeram até aqui, porque você tá caindo em um segundo erro, de subestimar a inteligência daquela/e profissional. Ela/ele é quem sabe se faz mais sentido pra CLT ou PJ. E sabe que, optando por PJ, ele está tendo as mesmas obrigações de profissionais CLTs, ganhando ~um pouco~ a mais, mas com nenhum direito. Ninguém é boba/o.


Então veja, tentando ser propositivo, uma opção é: jogue as informações na mesa. Ó, você pode optar por CLT, ou você pode optar por PJ. (Mas seja honeste: com CLT você tem esses e esses benefícios, no PJ esse e esse), tente não enviesar a escolha. Porque, se seu argumento for real, de que você tem que pagar mais impostos, quando todos eles poderiam ir pro funcionário/a, então, não fará diferença pra você, e você ainda ouvirá o/a profissional? Só alegria né?


Bom, e agora você, liderança, pode estar argumentando: "bom, mas aqui, pra cultura da minha empresa, profissionais que pensam assim, que preferem a CLT, não se encaixam, pois eu quero ambição, eu não quero ninguém que vá se acomodar na minha empresa". Bom, novamente, há uma porção de argumentos sobre privilégios e como isso é um baseado nos seus próprios privilégios, e não na realidade de quem você quer/precisaria ter perto. Agora, avalia se você só não tá justificando mentalmente como PJ é o melhor modelo pra você, usando o argumento de cultura. Porque veja, uma pessoa que prefere CLT também é uma pessoa planejada, segura, precavida, que de um dia pro outro não vai deixar sua empresa, e que quer caminhos seguros. Algo que, veja você, tenho certeza que também é importante pra sua cultura empresarial. ALERTA: Eu sei que isso beira a ingenuidade, porém, se você não consegue nem olhar com esse olhar de descrença pra proposições, a gente tá mais perto do problema, que da solução pro seu negócio, empresa, indústria, vida.


Outra ressalva importante: eu nem vou entrar aqui em uma discussão econômica se o modelo de previdência no país é sustentável nos próximos anos, por exemplo, que seria um argumento possível, pois também estaria caindo no erro de adentrar em um campo de estudo que não é o meu. Agora, direitos assegurados são uma batalha de longos anos de pessoas que, não tem o privilégio de escolha de onde ou com o que trabalhar. Desconstruir estas conquistas em uma ou outra indústria, é prejudicial no coletivo de forma geral.

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